terça-feira, 3 de agosto de 2010

Antes que a fala

Antes que a fala,
o silêncio mais antigo
há de reger
as mãos ainda dispostas
a achar a suavidade da pele,
a intimidade do corpo,
num amor feito destino,
a acariciar os cabelos macios
das crianças,
o rosto enrugado
dos velhos.
Ainda com muda disciplina,
nossos braços, como correntes,
talvez imobilizem tiranos
de variados pendores.
Aprenderemos a reencontrar,
empolgado o coração,
os cantares quase esquecidos,
a algazarra das crianças,
as juras — sempre verdadeiras — dos amantes.
Só então falemos
de liberdade,
não como coisa presumida,
mas como verdade recém-chegada.