terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Se fugazes ou finais



Se fugazes ou finais
não sabemos,
mas há o silêncio
da renúncia
e o da esperança,
como apenas insinuam
os velhos sábios.
Se calou gemidos de medo,
nosso inepto esforço
de içar o silêncio
desse poço – que somos –
faz apenas verter
vagas de verbos
em versos insipientes.
Alvoroçados,
confundimos
setas e metas
e entre ecos
desse poço – que somos –
já nem bem sabemos
o que é renúncia
e o que é esperança.

Em águas e rochas



Em águas e rochas,
gregas em sua clareza
e compostura,
miramo-nos.
Não são mais
as que, quando crianças,
nos banhavam os pés
e nos protegiam
dos ventos frios
das manhãs sempre
magicamente reais.
Hoje, queremo-las
represadas umas,
lapidadas outras,
explicavelmente reais.
O frio à flor da pele
vem da alma,
já não o traz o vento.
E das muralhas, que
construidamente somos,
somos prisioneiros.
Olhos saudosos
de perdidas manhãs,
refugiamo-nos
no futuro.
Esperamos
por antigas águas,
mas elas estão rijas,
tentamos o alto das muralhas,
mas há outras,
sempre mais altas
e sólidas.
Sob luz ocidental,

as horas, como ás águas,
coagularam,
ainda que corram,
e na nova aurora,
haverá sóis e sombras,
mas já mais não somos
que a sombra
do que somos.
Não mais vivemos
em nenhum tempo,
os reflexos cristalizados.