sexta-feira, 7 de maio de 2010

HÁ TARDES

Há tardes,
como esta,
em que a algazarra dos pássaros
não desarranja
o silêncio que se estende
de dentro de nós
aos móveis imóveis,
ancorados na penumbra
da hora cadente.
Hora de estranheza
em que jovens fantasmas,
velhos conhecidos,
se aninham
nas poltronas gastas,
dispostos a repassar,
cena por cena,
as fantasias de outrora.
Vaga hora
de pungente melancolia,
nítida a súbita descoberta
de que já são outras
as fantasias,
o sorriso e a fala desses
velhos jovens
rostos de companheiros
nunca mais revistos.
Não, não são horas
de saudade
e, por isso,
de agonia...
São horas
de aviso.
A me fazer lembrar
que estão por vir
outras tantas tardes
povoadas de fantasmas
sempre jovens
e mais velhos
a contar histórias
que já não saberei
se em alguma hora
foram reais.
Como esta.