sexta-feira, 15 de junho de 2012

Aferramo-nos ciosamente

Aferramo-nos ciosamente
Às nossas mais pequenas lembranças
e urdimos nosso presente
desastradamente.
Como uma vez te disse,
não vivemos.
Já duplamente não vivemos
ao descobrirmos
que essas pequenas lembranças de nós mesmos
são apenas ordinários fragmentos
dessa trajetória maior,
feita universal,
sutilmente tecida
de mitos e compromissos
mal e mal suspeitados,
recolhidos nos tratados
mil vezes manuseados,
nas ditas verdades dos velhos filósofos,
nas teorias de solertes cientistas,
nas edificantes bíblias
de todas as religiões.
Lentamente matamo-nos,
aranhas suicidas,
enredados na própria teia.

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