sábado, 24 de março de 2012

AOS SONHOS DE NOITES ALHEIAS



Aos sonhos de noites alheias
mesclamos
reminiscências
de vilas jamais visitadas,
colamos símbolos
de rituais esquecidos de seu sentido
e arrematamos,
as mãos inábeis,
a razão dispersa,
o pano de fundo
do teatro mambembe.
Os bancos vazios
por assistência,
quase dignos
no alinhamento forçado
de sua congênita desconjuntura,
fazemo-nos
— mágica transfiguração —
intérpretes de nós mesmos.
Na impostação da fala
e na largueza do gesto
imaginamos
proferir e abraçar
as verdades todas.
Mas súbito
olhar no olhar
descobrimos
que não nos queria o roteiro
meros intérpretes
e sim nós mesmos,
na inteira autenticidade
de cada uma de nossas maneiras
longamente ensaiadas
e com zelo interpretadas.
Súbito,
e ainda que por instantes,
reconhecemos
que mais não somos que
fantoches
de cordões rompidos,
sem umbigo e
sem asas.
Apenas flutuamos
no encantamento da palavra.

4 comentários:

  1. olá, Ivan!Tinha parado de seguir seu blog porque achei que você tinha desistido dele. Não fique tanto tempo assim sem publicar!Os leitores sentem falta.

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    1. Agradeço (tardiamente) pelo pito. Prometo me corrigir! Abraço.

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  2. Grande Ivan:
    Não conhecia sua veia poética. Belo poema! Um respiro para a alma. Gostaria de ler outros.
    Abração,
    Alex

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  3. Obrigado pelo estímulo, Alex. Os poemas publicados neste blog são do livro "Sob Luz Ocidental", que lancei há uns quatro anos. Não tenho certeza, mas talvez eu tenha feito um exemplar chegar aas suas mãos. Ou não? Verifique, por favor. Abraço.

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